quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

ONDE TUDO COMEÇOU

Primeira Semana de Formação do GESTAR (13 a 17 de julho )

Cursista: Eliane Aparecida Cerqueira Fonseca

Matrícula: 11.357.642-7

Email: elyouliu@hotmail.com; elyouliugestarba@gmail.com.

Formação: Magistério, Licenciatura em Letras e Pedagogia. Especialização em Leitura e Produção Textual na Escola ; Educação de Jovens e Adultos.
Lamentei inicialmente o ambiente escolhido para realizar o nosso primeiro encontro. Ambiente sem infra estrutura, muito desconfortável. Passar oito horas por dias naquele local não foi nada fácil. Gostaria de me limitar apenas a essa observação.
A nossa Formadora chegou com uma “mala” cheinha de conhecimento para compartilhar e muita paciência. Mas era interrompida o tempo todo: Inscrições, cadastramentos, avisos, entre outros. A “organização” desse momento atrasou nosso trabalho.
A partir do segundo dia a formação ganha outra dinâmica. O estudo voltado para gêneros textuais, sugestões e muita discussão vai enriquecendo o momento. Muitos colegas com conhecimento no assunto se posicionam a respeito do tema.
Tivemos momentos de estudo, conflitos , acordos, homenagem, oração , tudo em grupo . Tentávamos nos entender, as diferenças de conhecimento, posicionamentos, expectativas inicialmente não encontravam objetivo comum. O planejamento inicial, sofreu replanejamento. O material rico que vinha na “mala”da formadora não pode ser totalmente explorando. Mas o T3 foi bem estudado. Um dos trabalhos em grupo: Produção de um poema – na análise de gênero - SER POÉTICO, a seguir:

Menino brinca

Brinca com as palavras
A bola subiu e quebrou a vidraça!
Prá...prá... prá...
Corre para lá,
Corre para cá,
Menino na rua
Pula e brinca

Menino escreve:

“O pipa no ar
Colorindo o céu.
O sol sorriu!”
“Risco de vermelho”
Papel amassado
Triste em um canto,
Medo de ser feliz!

(Em colaboração com o grupo: Eliane Cerqueira)

Muitas produções textuais foram surgindo durante a semana, ver fotos.
Assistimos aos filme: Narradores de Javé. Outra atividade a partir dessa ação será explorada, mas será preciso elaborar uma seqüência didática. Muitas atividades e estudos fizemos, ora individualmente, ora em grupo. Pena não ter visto “tudo”que existia naquela mala... com certeza muito conhecimento e emoções teríamos vivido mais...
A pesar das condições ambientais, foi proveitoso nosso primeiro encontro.
Convivi com colegas ansiosos,
sedentos por conhecimento,
outros com abundância,
mas com pouca tolerância,
uns muito talentosos,
alguns calados e atentos.
Rosa nesse jardim,!
tentava compreender essa gente
E observava cada momento. (Eliane Cerqueira)

AVALIANDO NOSSAS OFICINAS




VARIAÇÃO LINGUÍSTICA



GRAMÁTICA



GÊNEROS TEXTUAIS




LETRAMENTO




COERÊNCIA




ARGUMENTAÇÃO



AVALIAÇÃO





PROJETO





PORTIFÓLIO


O QUE DIZEM OS PESQUISADORES SOBRE PORTFÓLIO

Texto IV:

ELEMENTOS NECESSÁRIOS AO PORTFÓLIO.
CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO.

[...]

Um portfólio é muito mais que um arquivo cheio de coisas. É uma coleção sistemática e organizada de evidências usadas pelos docentes e alunos para acompanhar o desenvolvimento cognitivo, psicomotor e afetivo do aluno numa área específica.
É, caracteristicamente, uma compilação de vários trabalhos produzidos e colecionados durante a experiência em determinado curso, juntamente com ensaios auto-reflexivos escritos especialmente para o portfólio. Os trabalhos são usados para demonstrar habilidades específicas, competências e valores que sejam consistentes com as metas e objetivos do programa ou da universidade.
Um portfólio deve conter Alguns elementos como: capa, folha de rosto, sumário, introdução, desenvolvimento e conclusão.
  • Capa: deve conter informações como instituição, nome completo do autor, local (cidade) e ano;
  • Folha de rosto: apresenta os elementos necessários à identificação do trabalho e deve conter o nome do autor (em caixa alta), nome do professor (em caixa alta), finalidade do portfólio, local (cidade), data (mês e ano);
  • Sumário: é a enumeração das divisões e capítulos, na ordem que se encontra no trabalho e com indicação da página inicial correspondente;
  • Introdução: é uma justificativa, onde você vai explicar o que é o trabalho, a importância dele;
  • Desenvolvimento: deverá conter as atividades do programa GESTAR que foram aplicadas com os alunos; a análise do professor sobre as atividades aplicadas e parecer crítico sobre as etapas do projeto apresentado ao GESTAR e aplicado na unidade escolar.
  • Conclusão: é a parte onde se deve fazer as considerações finais com relação ao portfólio e expor o que deste acrescentou e a importância da elaboração do trabalho.


CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO DO PORTFÓLIO

1. Apresenta um conjunto organizado dos trabalhos.
2. Revela criatividade.
3. A justificativa evidencia um texto pessoal, coerente, revelando a real intenção do trabalho.
4. Apresenta todas as atividades solicitadas pelo programa.
5. Apresenta análise crítica e reflexiva sobre as atividades aplicadas.
6. O trabalho apresentado revela boa utilização das atividades e estratégias apresentadas pelo programa.
7. Revela atitude interacionista, com mediações constantes, durante as atividades descritas.
8. Descreve as etapas do projeto elaborado para o Programa.
9. Comprova as etapas do projeto ou das outras atividades realizadas com fotos e atividades anexas.
10. Atendeu ao cumprimento dos prazos (pontualidade).
11. Apresenta conclusão e avaliação do seu crescimento durante o processo.
12. Apresenta conclusão e avaliação do crescimento do aluno durante o processo.


Referências bibliográficas:

BARBOSA, A. A S M. Amara & EMÍLIA, A. A dissertação e o pensamento lógico. In: Escrever é desvendar o mundo. 2ª edição,Campinas. São Paulo: Papirus, 1987.
BLACKBURN, R.& PUTTEN, J.V.& PENNA F. T. Avaliação de docentes e do ensino. Brasília UNB/Cátedra da UNESCO de Educação a Distância. 1988.
CASTRO, Edmilson. A produção do registro do educador: decifrando sinais. Espaço Pedagógico. SP: 2001.
CARVALHO, M C. M de Metodologia Científicos Fundamentos e Técnicas. 4ª Ed. Campinas. SP: Papirus, 1994.
CENPEC – Centro de estudos e Pesquisas para Educação, Cultura e Ação Comunitária. Importância e função do registro. Ensinar e Aprender. SP: 2000.
FREIRE, Madalena. O papel do registro na formação do educador. Diálogos Textuais. Espaço Pedagógico. SP 2001.

O QUE DIZEM OS PESQUISADORES SOBRE GÊNEROS TEXTUAIS

GÊNEROS TEXTUAIS:
definição e funcionalidade(I)

L.A. Marcuschi


Os Gêneros Textuais (GT), como práticas sócio-históricas, se constituem como ações para agir sobre o mundo e dizer o mundo, constituindo-o de algum modo.

- GT > Conceitos

* Fenômenos históricos, profundamente vinculados à vida cultural e social.
* Fruto do trabalho coletivo.
* Formas de ação social.
* Modelos comunicativos.
* Eventos textuais.

- GT > Surgimento

* Necessidades sócio-culturais
* Atividades sócio-culturais
* Inovações tecnológicas

- GT > Características

* comunicativas
* cognitivas
* institucionais
* lingüísticas/estruturais

- GT > Finalidades

* Predizer e interpretar as ações humanas em qualquer contexto discursivo
* Ordenar e estabilizar as atividades comunicativas cotidianas

GÊNEROS TEXTUAIS: definição e funcionalidade (II)


EVOLUÇÃO


Antes do século VII a.C. - PRIMÓRDIOS - Povos de cultura oral
- Conjunto limitado de gêneros

A partir do século VII ªC. - INVENÇÃO DA ESCRITA - Gêneros típicos da escrita
- Multiplicidade de gêneros

A partir do século XVI d.C. - INVENÇÃO DA IMPRENSA - Florescimento da cultura
impressa
- Expansão dos gêneros

A partir do século XVIII d.C. - INDUSTRIALIZAÇÃO - Facilidade de reprodução da
matéria impressa
- Grande ampliação dos gêneros

Atualmente - CULTURA ELETRÔNICA - Novas formas e meios de comunicação
- Explosão de novos gêneros (tanto na oralidade
quanto na escrita)

GÊNEROS TEXTUAIS: definição e funcionalidade (III)

NOVAS TECNOLOGIAS & NOVOS GT

*Formas inovadoras *telemensagens
mas não absolutamente novas *teleconferências
*Uso e interferência nas *videoconferências
atividades comunicativas diárias *cartas eletrônicas
*bate-papos virtuais
*aulas virtuais

GT > TRANSMUTAÇÃO: formatos de gêneros prévios para objetivos novos em outro
quadro comunicativo e funcional.

GT > ASSIMILAÇÃO: de um gênero por outro,gerando novos.



TIPOS TEXTUAIS

* Construção teórica definida pela natureza lingüística de sua composição.

* Seqüências tipológicas lingüísticas.

* Categorias segundo Werlich:
  • narração
  • argumentação
  • exposição
  • descrição
  • injunção

GÊNEROS TEXTUAIS (GT)

* Conjunto de textos que apresentam características sócio-comunicativas definidas
por conteúdos, propriedades funcionais, estilo, composição e canal.
* Exemplo:
Jaculatórias > características
Conteúdo: expressão de fervor religioso
Função: obtenção de graça ou perdão
Estilo: laudatório e invocatório
Composição: curta, poucos enunciados
Canal: oração


GÊNEROS TEXTUAIS: definição e funcionalidade (IV)

CONCEITOS BÁSICOS, segundo Marcuschi


DOMÍNIOS DISCURSIVOS * Grandes esferas de atividade humana em que os textos circulam.
* Esfera ou instância de produção discursiva ou de atividade
humana.

GÊNEROS TEXTUAIS * Formas verbais de ação social relativamente estáveis realizadas
em textos situados em comunidades de práticas sociais típicas e
em domínios discursivos específicos.

DISCURSO * Aquilo que um texto produz ao se manifestar em alguma instância
discursiva.

TEXTO * Entidade concreta realizada materialmente e corporificada em gênero
textual.

TIPOS TEXTUAIS * Seqüências tipológicas narrativas, descritivas, injuntivas,
expositivas, argumentativas.


http://www.paratexto.com.br/files/0003/esquema_GTMarcuschi_03.doc

O QUE DIZEM OS PESQUISADORES SOBRE ARGUMENTAÇÃO

Quando usamos a argumentação?

No nosso quotidiano usamos constantemente a linguagem: das conversas entre amigos às intervenções nas aulas, das pequenas mensagens SMS aos trabalhos escolares, a língua é o instrumento permanentemente usado. E se é verdade que a maior parte desses actos de comunicação tem um carácter informativo, não é menos verdade que um bom número deles tem um carácter argumentativo. Quando queremos defender um ponto de vista, quando apresentamos a nossa opinião, quando propomos uma solução para um problema ou quando queremos convencer os outros a aceder a um pedido nosso, temos que argumentar. Na verdade, pensando bem, argumentamos muito e muito frequentemente. Por vezes enfrentamos a oposição dos outros e então temos que argumentar ainda melhor para os convencer. E argumentar bem é um acto de inteligência que, para ser eficaz, tem as suas regras.

O que é argumentar?

Argumentar é, pois, expressar uma convicção, um ponto de vista, que é desenvolvido e explicado de forma a persuadir o ouvinte/leitor. Para isso, é necessário que apresentemos um raciocínio coerente e convincente, baseado na verdade, e que influencie o outro, levando-o a pensar/agir em conformidade com os nossos objetivos.

Argumentar é o mesmo que persuadir?

Argumentar é persuadir racionalmente, mas nem toda a persuasão é racional. Há a persuasão emocional, muito usada, por exemplo, em publicidade. (Quando um anúncio publicitário nos convence a comprar um determinado produto, não pelas qualidades desse produto que responde a necessidades nossas, mas porque, ao associar essa marca a um determinado padrão de vida, nos leva a crer que adquirindo aquele artigo passaremos a usufruir desse padrão de vida). A diferença entre a persuasão racional e a emocional reside no fato de, na primeira, se fazer apelo à razão, enquanto na segunda, se apelar a desejos, sentimentos, medos, emoções, frustrações.


O que é um texto argumentativo?

O texto argumentativo é, então, o que visa convencer, persuadir ou influenciar o ouvinte/leitor, ao qual se apresenta um ponto de vista - uma tese - cuja veracidade se demonstra e prova. Como? Começando por apresentar a tese, a partir da qual se desenvolve o raciocínio, a argumentação, constituída por um conjunto de argumentos logicamente encadeados, sustentados em provas e, normalmente, ilustrados e credibilizados por exemplos. E o que é um argumento? Argumento é uma quantidade de informação ou de dados organizados – as premissas – que sustentam o ponto de vista e conduzem à conclusão da veracidade da tese que se pretende defender.


Quando temos que construir um texto argumentativo?

Na vida escolar, na vida profissional, e no exercício da nossa cidadania, precisamos, com frequência, de elaborar textos argumentativos.
A dissertação, o comentário, a exposição escrita, mas também um simples artigo de opinião ou uma crítica de cinema ou de música exigem a elaboração de um texto argumentativo bem estruturado, segundo um esquema lógico. Do mesmo modo, a intervenção num debate ou numa reunião, uma campanha para a associação de estudantes, um discurso político ou uma alegação judicial obrigam a uma construção argumentativa muito cuidada.

Como se constrói um texto argumentativo?

I - Estrutura do texto / Progressão temática
1. Introdução: Parágrafo inicial no qual se apresenta a proposição (tese, opinião, declaração).
Deve ser apresentada de modo afirmativo, claro e bem definido, sem referir ainda quaisquer razões ou provas.
2. Desenvolvimento: Análise/explicitação da proposição apresentada; apresentação dos argumentos que provam a verdade da proposição: fatos, exemplos, citações, testemunhos, dados estatísticos.
3. Conclusão: Parágrafo final, no qual se conclui com uma síntese da demonstração feita no desenvolvimento.

II - Escolha e ordenação dos argumentos
Para uma correta construção argumentativa, é fundamental a escolha dos argumentos que suportam a demonstração da verdade da tese. Eles devem ser pertinentes e coerentes, apresentados de forma lógica e articulada. Assim deve-se:
• encontrar os argumentos adequados;
• recorrer, sempre que possível e desejável, à exemplificação, à citação, à analogia, às relações causa-efeito;
• organizar os argumentos por ordem crescente de importância, do menos para o mais importante.

III - Adequação do texto ao objetivo e ao destinatário
A construção de um texto argumentativo deve ter em conta a sua finalidade e também o leitor/ouvinte ao qual se destina (para informar, convencer, emocionar). Deve, pois:
• usar um registro adequado à situação e ao destinatário;
• utilizar referências de conteúdo que o destinatário possui, de forma a que este o possa interpretar corretamente.

IV - Articulação e progressão do discurso
O texto deve apresentar-se como um todo coeso e articulado, através do estabelecimento de uma rede de relações lógicas entre as palavras, as frases, os períodos e os parágrafos que o constituem. Deve, além disso, recorrer a processos de substituição, usando palavras ou expressões no lugar de outras usadas anteriormente. Deve igualmente corresponder à construção de um raciocínio que se vai desenvolvendo gradualmente. Estas características são conseguidas através da correta utilização e combinação dos elementos linguísticos do texto:
• correta estruturação e ordenação das frases;
• uso correto dos conectores do discurso;
• respeito pelas regras de concordância;
• uso adequado dos pronomes que evitam as repetições do nome;
• utilização de um vocabulário variado, com recurso a sinônimos, antônimos, hiperônimos e hipônimos.
A progressão e articulação do texto é conseguida sobretudo através do uso de conectores ou articuladores do discurso que vão fazendo progredir o texto de uma forma coerente e articulada.

Conectores do discurso

Vimos que, para cumprir o seu objetivo – persuadir – o texto argumentativo deve apresentar-se como uma construção lógica, na qual o raciocínio é apresentado de forma progressiva e articulada. Para isso, é fundamental uma boa utilização dos articuladores ou conectores do discurso – advérbios, locuções adverbiais, conjunções, locuções conjuncionais e mesmo orações completas. Alguns desses articuladores, utilizados em qualquer tipo de texto, são recorrentes no texto argumentativo.

Articuladores Argumentativos:

para reiterar, reafirmar - retomando a questão, penso que, a meu ver, creio que, estou certo, em nosso entender.
para concordar, provar, exprimir certeza - efetivamente, com efeito, sem dúvida, na verdade, certamente, de certo, com toda a certeza, evidentemente, é evidente que, obviamente, é óbvio que.
para refutar, manifestar oposição, restringir conseqüência - no entanto, mas, todavia, contudo, porém, apesar de em sentido contrário, refutando, peto contrário, ao contrário por outro lado, com a ressalva de.
para exemplificar - por exemplo, como se pode ver, assim, tome-se como exemplo, é o caso de, é o que acontece com.
para explicitar - significa isto que, explicitando melhor, não se pretende com isto, quer isto dizer, a saber, isto é, por outras palavras.
para concluir - finalmente, enfim, em conclusão, concluindo, para terminar, em suma, por conseguinte, por consequência.
para estabelecer conexões de tempo - então, após, depois, antes, anteriormente, em seguida, seguidamente, quando, até que, a princípio, por fim.
para referenciar espaço - aqui, ali, lá, acolá, além, naquele lugar, o lugar onde, ao lado de, à esquerda, à direita, ao centro, no meio, mais adiante.
para indicar ordem - em primeiro lugar, primeiramente, em segundo lugar, seguidamente, em seguida, começando por, antes de mais, por último, por fim.
para estabelecer conexões de causa - porque, visto que, dado que, uma vez que.
para estabelecer conexões de conseqüência - de tal modo que, deforma que, tanto que, e por isso.
para expressar condição, hipótese - se, a menos que, a não ser que, desde que, supondo que, se por hipótese, admitindo que, exceto se, se por acaso.
para estabelecer conexões de fim - para que, para, com o fim de, afim de que, com o intuito de.
para estabelecer relações aditivas - e, ora, e também, e ainda.
para estabelecer relações disjuntivas - ou, ou então, seja... seja, quer...quer.
para expressar semelhança, comparação - do mesmo modo, tal como, pelo mesmo motivo, pela mesma razão, igualmente, assim como.

Que é argumentar?
1. Argumentar é expor de forma encadeada um conjunto de argumentos (razões) que justificam uma conclusão. Por outras palavras, um argumento é um conjunto de premissas (razões, provas, ideias) apresentadas para sustentar uma tese ou um ponto de vista.
2. Conforme os tipo de argumentos (razões) que nos servimos para justificar uma dada conclusão, podemos estar perante uma demonstração ou uma argumentação. Foi Aristóteles no Organon, quem fez pela primeira vez esta distinção.
No caso da demonstração, os argumentos (premissas) são verdadeiros e a partir deles só podemos deduzir uma conclusão verdadeira.

Exemplo:
Todos os mamíferos têm pulmões
Todas as baleias são mamíferos
Logo, todas as baleias têm pulmões
.

As premissas que partimos são verdadeiras e também inquestionáveis. A conclusão só pode ser uma. Negá-la seria entrar em contradição. Aristóteles designou este tipo raciocínio de analítico.
No caso da argumentação os argumentos (premissas) são mais ou menos prováveis. Muitos pessoas são susceptíveis de serem convencidos que os mesmos verdadeiros, mas nem todas irão concordar com esta posição. A conclusão está longe de gerar uma unanimidade.

Exemplo:
Todos os alunos são estudiosos
João é aluno
Logo, João é estudioso
.

A premissa que partimos é muito discutível. A conclusão inferida a partir da conclusão, embora logicamente válida, não obtendo a concordância de todos. Aristóteles designou este tipo raciocínio de dialético. Neste caso o orador não se pode limitar a expor algo que é admitido como verdadeiro, mas tem que persuadir quem o ouve da sua veracidade das suas conclusões.

3. Com base nos exemplos anteriores, podemos afirmar que a argumentação se distingue da demonstração em muitos aspectos, tais como:
Na argumentação a conclusão é mais ou menos plausível; as provas apresentadas são susceptíveis de múltiplas interpretações, frequentemente marcadas pela subjetividade de quem argumenta e do contexto em que o faz. Na argumentação procura-se acima de tudo, convencer alguém que uma dada tese é preferível à sua rival. É por isso que só se argumenta nas situações em que existem várias respostas possíveis. Toda a argumentação implica deste modo o envolvimento ou comprometimento de alguém em determinadas teses.
Na demonstração a conclusão é universal, decorrendo de forma necessária das premissas, e impõe-se desde logo à consciência como verdadeira; as provas são sem margem de erro e não estão contaminadas por fatores subjetivos ou de contexto. A demonstração assume um caráter impessoal. É por isso que podemos dizer que a mesma foi correta ou incorretamente feita, dado só se admitir uma única conclusão.
4. O discurso argumentativo supõe a disponibilidade de duas ou mais pessoas (interlocutores), para confrontarem de forma pacífica, os seus pontos de vista e argumentos. Fazem-no de um modo que procura cativar a atenção e adesão às suas ideias por parte de quem os ouve (auditório). Três das condições para que isso possa acontecer: o discurso dever ser coerente e consistente, isto é credível, mas também o orador tem que ser persuasivo.
5. A argumentação é distinta da persuasão. Se podemos dizer que todo o discurso argumentativo é persuasivo, o contrário não é verdadeiro, pois nem todo o discurso persuasivo é argumentativo.
A argumentação para poder ser convincente tem que fazer apelo à razão, ao julgamento de quem participa ou assiste ao confronto de ideias.
A persuasão está ligada à sedução. A adesão de alguém a certas ideias é feita através de gestos, palavras ou imagens que estimulam nela sentimentos ou desejos ocultos, acabando por gerar falsas crenças. Através da persuasão o orador reforça os seus argumentos despertando emoções, de modo a criar uma adesão emotiva às suas teses. Na persuasão ao contrário da argumentação faz-se apelo a processos menos racionais. Como veremos, os atuais meios de comunicação de massas, veiculam discursos publicitários que utilizam sofisticadas técnicas de persuasão dirigidas a públicos-alvo bem determinados.
Chaim Perelman questiona este critério de distinção. Segundo este autor, o critério de distinção não assenta na dicotomia razão/emoção, mas sim na dimensão do auditório: os discursos argumentativos dirigem-se a públicos particulares, capazes de avaliarem as teses em confronto. Os discursos persuasivos dirigem-se a públicos universais, pouco versados nos tema em discussão e por isso mais receptivos à sedução.
6. Um discurso argumentativo requer uma organização e encadeamento de argumentos, tal de forma lógica que o auditório não apenas possa acompanhar o raciocínio do orador, mas também que possa ser convencido da justeza da posição que está a ser defendida (Logos). Para além deste aspecto, é também fundamental para que o discurso seja persuasivo que o próprio orador seja credível (Ethos) e que desperte simpatia ou gere empatia com o auditório (Pathos)
Este aspecto realça a importância do emissor (orador, o que elabora a argumentação). Ele tem que conhecer as características do seu receptor (auditório) e saber calcular as suas reações face à mensagem pretende veicular. O discurso argumentativo valoriza o receptor e as suas opiniões ou reações.
7. O grande objetivo de todo o discurso argumentativo é provocar a adesão de um auditório (o conjunto de indivíduos que o emissor pretende influenciar por meio da sua argumentação).
O discurso é sempre feito em função de um auditório composto por indivíduos todos diferentes entre si. O emissor, antes de elaborar a sua argumentação tem que construir do mesmo uma dada representação ideal tentando prever a sua adesão aos argumentos que irão ser expostos.
Nem todos os argumentos provocarão certamente a mesma adesão. Cada auditório requer, pois, da parte do emissor, uma estratégia argumentativa própria, de forma a apresentar nos momentos certos os argumentos mais ajustados. Um auditório particular é muito distinto de um auditório universal. Cada um exige um discurso próprio para que este possa ser persuasivo.
8. Desde o seu início que na filosofia se dedica uma enorme atenção à argumentação. Tal não acontece por acaso. Na verdade a argumentação é uma das formas mais profícuas da própria atividade filosófica, na medida em que ela envolve a capacidade de dialogar, de pensar, de analisar, de escolher e implica o comprometimento de alguém com os seus próprios argumentos.

Carlos Fontes

Opinião de leigos sobre o assunto: (Se é que vale pra você)
Quinta-feira, 20 de Setembro de 2007
Argumentar, persuadir, convencer, influenciar, manipular...
Argumentar, persuadir, convencer, influenciar, manipular...
(Afinal de contas, quem é quem?)

Todas essas palavras são todas bem parecidas em seus significados e fazem parte de nossas vidas cotidianamente, afinal de contas, quem não quer ter poder sobre os outros???
Olhe, não me fale que nunca pensou nisso, nem que vc é democrático e politicamente correto, pq no fundo no fundo, lá dentro no seu pensamento, vc já quis um dia ou em todos os dias, persuadir as pessoas para q pensassem como vc pensa, assim o mundo seria mais fácil pra vc, ou pelo menos para o seu mundo.
O fato é que, todos nós em alguma situação de nossas vidas, já utilizamos essas palavras, já precisamos argumentar com alguém, tentamos convencer pessoas de que algumas coisas são certas e outras tantas são erradas, e queremos geralmente (digo por mim!) influenciá-las a optar pelo que é certo, para livrá-las da manipulação desenfreada do sistema alienador do mundo.

Então, vamos aos esclarecimentos:

Argumentar: Expor idéias para causar reflexão com fins de mudança de comportamento ou tomada de atitude.
Argumentos: propostas que levam o seu interlocutor a avaliar determinada questão.
Convencer: vencer junto com o outro, de maneira racional, através de argumentos lógicos ambas partes entram em acordo. (com + vc + vencer = convencer)
Persuadir: utiliza-se argumentos emocionais apela-se aos sentimentos, provoca-se sensações.
Influenciar: causar uma ação no outro convencendo ou persuadindo
Manipular: dominar independente de convencimento ou persuasão

Então, é o seguinte:
Você precisa de argumentos para influenciar sem manipular, através de uma argumentação persuasiva e de convencimento.

Sacou?!
Espaço para amigos e visitantes... pois é gente, vamos ler e contribuir aqui "SoBrE aLgUmAs CoIsAs"... Agnise Martins

http://agnise.blogspot.com/2007/09/argumentar-persuadir-convencer.html

O QUE DIZEM OS PESQUISADORES SOBRE LETRAMENTO

O QUE DIZEM OS PESQUISADORES SOBRE A LEITURA



DESENVOLVIMENTO DE HABILIDADES DE LEITURA DE TEXTOS A PARTIR DA ANÁLISE DE PRESSUPOSTOS E SUBENTENDIDOS

Fernandes (Nohad Mouhanna UNIGRAN)

Contemplando a leitura como processo sócio-discursivo que se realiza num contexto enunciativo, processo cognitivo de inferências e trabalho de produção de sentidos, este trabalho destaca a importância de se conduzir o aluno ao estudo de aspectos semântico-discursivos, especificamente das noções de pressupostos e subentendidos, para o desenvolvimento de habilidades de leitura nos diversos níveis de escolaridade. Enfatiza a necessidade de, no contexto escolar, os fenômenos relativos à significação serem trabalhados nas aulas de leitura e interpretação, com vistas a contribuir para a formação de leitores atuantes e críticos, capazes de encarar a leitura como um processo dialógico.

Introdução

Desde a década de 70, por meio de resultados de vestibulares e de avaliações nacionais, tem-se constatado que um número significativo de alunos brasileiros tem dificuldade em interpretar, em interagir com o texto atribuindo-lhe sentido, em posicionar-se criticamente frente ao que lê. Tem-se ressaltado, a partir de então, que um dos principais compromissos do professor da área da linguagem é auxiliar o aluno a desenvolver sua competência de leitura, pois não há mais dúvidas de que, na sociedade atual, a qualidade de vida do cidadão está diretamente ligada a essa competência. Dessa feita, ampliam-se os estudos sobre leitura fundamentados em teorias do discurso e do texto, sob as mais diferentes abordagens. Uma dessas abordagens parte do princípio de que ler é muito mais do que decodificar sinais, destacando, portanto, a necessidade de se conscientizar o aluno sobre os diversos níveis de significação existentes em cada texto, ou seja, “cumpre mostrar-lhe que, além da significação explícita, existe toda uma gama de significações implícitas, muito mais sutis, diretamente ligadas à intencionalidade do produtor”. (Koch, 1996: 160).
Isso implica dizer que as interações verbais não ocorrem fora de um contexto sócio-histórico-ideológico e, sendo assim, a interpretação de enunciados exige do interlocutor não apenas uma interpretação semântica, mas uma análise do contexto, ou seja, exige dele um procedimento pragmático (Maingueneau, 2004: 29). Nessa direção, os Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa (PCN, 1998) têm motivado os educadores a refletirem sobre a necessidade de capacitar o aluno a compreender não só o que está escrito, mas também a identificar os implícitos, como evidencia o conteúdo abaixo para a prática de leitura de textos escritos:

Articulação entre conhecimentos prévios e informações textuais, inclusive as que dependem de pressuposições e inferências (semânticas e pragmáticas) autorizadas pelo texto, para dar conta de ambigüidades, ironias e expressões figuradas, opiniões e valores implícitos, bem como das intenções do autor. (PCN, 1998: 56)

Por outro lado, cabe lembrar que a introdução dessa prática em sala de aula não tem sido muito usual. A vasta bibliografia da lingüística aplicada ao ensino de língua portuguesa mostra que a escola está acostumada a práticas pedagógicas que não estendem o aprendizado da leitura, compreensão e interpretação a um constante interagir, impossibilitando o aluno de perceber aspectos semânticos e pragmáticos que atuam no sentido dos enunciados e de analisar a língua em uso, em funcionamento.
Atingir o objetivo de fazer com que os alunos se tornem leitores autônomos e competentes esbarra em alguns outros entraves que incorporam a operacionalização do trabalho com a linguagem. Um deles está no fato de a escola privilegiar muito mais os estudos sobre Morfologia, Sintaxe e Fonética do que os estudos do texto e da significação. Nesse sentido, é oportuno ressaltar o que Rodolfo Ilari diz sobre a ausência do estudo da significação nas escolas de ensino médio:

Uma das características que empobrecem o ensino médio da língua materna é a pouca atenção reservada ao estudo da significação. O tempo dedicado a esse tema é insignificante, comparado àquele que se gasta com "problemas" como a ortografia, a acentuação, a assimilação de regras gramaticais de concordância e regência, e tantos outros, que deveriam dar aos alunos um verniz de "usuário culto da língua". Esse descompasso é problemático quando se pensa na importância que as questões da significação têm, desde sempre, para a vida de todos os dias, e no peso que lhe atribuem hoje, com razão, em alguns instrumentos de avaliação importantes, tais como o Exame Nacional do Ensino Médio, os vestibulares que exigem interpretação de textos e o Exame Nacional de Cursos. (Ilari, 2003: 11)

Em relação às diferentes maneiras de se trabalhar com o texto, o autor assevera para o fato de que “as que prevalecem na prática pouco tem a ver com interpretação”. Segundo ele, não se dá atenção “ao enorme repertório de conhecimentos e à variedade dos processos que mobilizamos ao interpretar”; e, ainda, “não existe em nosso ensino a tradição de tratar do sentido através de exercícios específicos” (Ilari, 2003: 11).
Nesta perspectiva, este trabalho visa a uma reflexão sobre a leitura como um processo cognitivo de inferências e como um processo sócio-discursivo que se realiza num contexto enunciativo. Destaca a importância de se conduzir o aluno ao estudo de aspectos semântico-discursivos, especificamente das noções de pressupostos e subentendidos, para o desenvolvimento de habilidades de leitura nos diversos níveis de escolaridade, com vistas a contribuir para a formação de leitores atuantes e críticos, capazes de encarar a leitura como um processo dialógico.

Algumas Considerações Sobre Atividades Inferenciais De Leitura

Os PCN contemplam a necessidade de a escola formar leitores proficientes, passe essencial para a cidadania. Para a concretização desse objetivo, mudanças na forma de se compreender a linguagem e o seu processo de aprendizagem devem ser feitas. A ação que se faz necessária advém de princípios teóricos relativos à concepção sociointeracionista de língua, na qual o texto é visto como um todo organizado de sentido e, no dizer de Koch (2002: 17), como um espaço em que adentra “toda uma gama de implícitos, dos mais variados tipos, somente detectáveis quando se tem, como pano de fundo, o contexto sociocognitivo dos participantes da interação”. A leitura, nessa concepção, é vista como um processo que envolve, além dos conhecimentos lingüísticos e textuais, o conhecimento de mundo do leitor ou, em outros termos, é vista como uma atividade que envolve elaborações semânticas, pragmáticas, lógicas e culturais, e, portanto, como dependente de fatores lingüísticos e extralingüísticos. Dessa feita, o ensino/aprendizagem de língua portuguesa se faz por meio da interligação entre os eixos da análise lingüística, da leitura e da produção textual. A interiorização desses princípios decorrentes da evolução dos estudos lingüísticos, enfim, sustentam o fazer pedagógico no processo de compreensão.
Vale ressaltar que compreensão, de acordo com Marcuschi (2003: 58), é “um processo criador, ativo, construtivo que vai além da informação estritamente textual.” Ou ainda, a compreensão, na visão interacional de língua, segundo Koch,

Deixa de ser entendida como simples “captação” de uma representação mental ou como a decodificação da mensagem resultante de uma codificação de um emissor. Ela é, isto sim, uma atividade interativa altamente complexa de produção de sentidos, que se realiza, evidentemente, com base nos elementos lingüísticos presentes na superfície textual e na sua forma de organização, mas que requer a mobilização de um vasto conjunto de saberes (enciclopédia) e sua reconstrução deste no interior do evento comunicativo. (Koch , 2002: 17)

Nessa perspectiva, o professor deve realizar um exercício analítico por meio de perguntas mediadoras que orientem o olhar dos leitores em formação a compreender ativamente os implícitos das práticas da linguagem, levando-os a avaliar os argumentos e o conteúdo subjacente às afirmações do texto e orientando-os para o exercício do pensar crítico. Enfim, o professor, que tem familiaridade com diferentes manifestações da linguagem, deve dar uma contribuição significativa para a compreensão do texto, de modo a favorecer o desenvolvimento de capacidades de leitura mais complexas, ou seja, inferenciais. Esta, sem dúvida, é uma das formas de ajudar o aluno a inter-relacionar-se com o texto, a raciocinar de forma mais eficaz, a fazer inferências baseadas em informações explícitas e implícitas, mostrando-lhe como essas influenciam na leitura e na compreensão do texto, pois, como explica Marcuschi:

Na atividade inferencial, costumamos acrescentar ou eliminar; generalizar ou reordenar; substituir ou extrapolar informações. Isto porque avaliamos, generalizamos, comparamos, associamos, reconstruímos, particularizamos informações e assim por diante. Pois inferir é produzir informações novas a partir de informações prévias, sejam elas textuais ou não. A única coisa que deve ser controlada na inferenciação é a falsidade ou a incompatibilidade do resultado com os elementos explícitos do texto. (Marcuschi, 2003: 58)

Koch (2002: 161), ao tecer algumas reflexões sobre o ensino da leitura, explica que mediante a observação de determinadas estratégias de enunciação que a superfície textual revela, o leitor consegue entender as intenções do autor. Para tanto, segundo a autora, “é preciso compreender-se o querer dizer como um querer fazer.”
Nesse sentido, faz-se útil delinear, ainda que de forma sintética, alguns pressupostos teóricos referentes à questão da significação. Vale ressaltar que os exemplos que estão imbricados aos fenômenos semântico-discursivos ora apresentados servem para impulsionar uma reflexão sobre a prática da leitura, de forma a mostrar a importância da percepção dos significados implícitos – pressupostos e subentendidos-, que entram em jogo no ato de interpretar o texto.

Informações implícitas

No processo de aprendizagem da leitura, é essencial que o professor chame a atenção dos alunos para o fato de que os textos transmitem explicitamente certas informações (significação observável pelo contexto frasal, gramatical, lingüístico em sentido estrito, portanto, decorrente da competência lingüística do leitor), enquanto deixam outras implícitas. Para Koch (1996, p. 161), “a intelecção de um texto consiste na apreensão de suas significações possíveis, as quais se representam nele, em grande parte, por meio de marcas linguísticas.” Assim, segundo a autora, é preciso preparar o aluno para reconhecer essas marcas, dentre as quais se destacam o pressuposto e o subentendido. Isso porque, ao reconhecê-las, o aluno reconstrói o evento da enunciação, pois apreende a intencionalidade subjacente ao texto, mas não só, também reconstrói o texto “a partir de sua vivência, de seu conhecimento e de sua visão de mundo.”

No momento que o educando se tornar capaz de descobrir tudo aquilo que se encontra, de algum modo, implicitado no texto, em seus diversos níveis de significação, ser-lhe-á mais fácil fugir à manipulação, ou seja, reconhecer as manobras discursivas realizadas pelo emissor, com o intuito de conduzi-lo a uma determinada interpretação ou obter dele determinados tipos de comportamento. (Koch, 1996: 162)
Sintetiza-se nas palavras acima, portanto, a importância de os fenômenos relativos à significação serem trabalhados nas atividades de compreensão de textos.

Pressuposição.

É indiscutível que a escola é o lugar privilegiado para auxiliar os alunos na leitura de pressupostos. Mas, o que são pressupostos? Veja-se o seguinte exemplo prático: “Ademir parou de beber.” Para se aceitar o fato de Ademir ter deixado de beber, toma-se, como verdadeira, outra informação que, embora não dita na frase, é logicamente pressuposta pelo verbo parar de, ou seja, se Ademir parou de beber, é porque antes ele bebia. Por outro lado, a informação deixa de ser válida se Ademir nunca bebeu. Dessa feita, o Novo Dicionário Aurélio (Ferreira, 1986) assim define pressuposto: “circunstância ou fato considerado como antecedente necessário a outro.” De forma mais abrangente, Ilari e Geraldi (1994: 90) explicam que a pressuposição é um “conteúdo implícito, sistematicamente associado ao sentido de uma oração, tal que a oração só pode ser verdadeira ou falsa se o conteúdo em questão for reconhecido como verdadeiro”.
No exemplo citado acima, percebe-se que a pressuposição lógica ou semântica é parte do conhecimento partilhado pelo falante e pelo ouvinte. Assim, diz-se que sua noção é relacionada ao sentido das palavras inscritas no enunciado, mas também, como diz Cançado (2005: 27-28), “a um conhecimento prévio, extralingüístico, que o falante e o ouvinte têm em comum”; portanto, de acordo com a autora , “pode-se dizer que a pressuposição é uma noção semântico-pragmática.” Dessa feita, o conteúdo pressuposto “Ademir bebia antes”, já que conhecido pelos interlocutores para ser proferido, não é afetado, permanece inalterado quando esse enunciado é negado, ou é colocado em forma de interrogativa, ou mesmo como uma condicional (suposição) antecedendo outra sentença: a) Ademir parou de beber; b) Ademir não parou de beber; c) Ademir parou de beber?; d) Se Ademir parou de beber, sua esposa deve estar contente. O pressuposto, pois, faz sentido em qualquer uma dessas situações, ainda que modifiquemos sua forma sintática.
Ao analisar as relações de sentido em enunciados, algumas palavras ou expressões introduzem pressuposição. Entre os indicadores lingüísticos de pressuposição, podem-se citar certos adjetivos ou palavras similares modificadoras do substantivo, verbos que indicam mudança ou permanência de estado, advérbios, orações adjetivas e conjunções, os quais, ao serem identificados, contribuem para uma leitura mais aprofundada do texto. Quando se diz, por exemplo, “Freqüentei as aulas de pintura, mas aprendi algumas coisas.” o falante transmite duas informações de maneira explícita: a) que ele freqüentou as aulas de pintura; b) que ele aprendeu algumas coisas. Ao ligar essas duas informações com um mas comunica também, de modo implícito, sua crítica às aulas de pintura, pois passa a transmitir a idéia de que pouco se aprende nessas aulas.

Subentendidos

Para falar em subentendidos, as “máximas conversacionais” apresentadas pelo americano Paul Grice (1982) devem ser reportadas. Segundo Maingueneau (2004), essas máximas ou leis do discurso desempenham papel fundamental na interpretação de enunciados orais ou escritos, já que são definidas como um conjunto de normas que devem ser respeitadas pelos interlocutores num ato de comunicação verbal. Como propõe Grice, há um princípio geral denominado princípio de cooperação que determina que os interlocutores devem se mostrar cooperativos, contribuindo para construir o sentido do texto de acordo com o objetivo ou orientação imposta pelo intercâmbio verbal no qual participam. Na dependência desse metaprincípio, estão várias normas, e, de acordo com Borba ( 1998: 253), algumas delas “permitem prever os subentendidos”, que são “insinuações semânticas que se acrescentam à significação dada pelo componente lingüístico”, ou, no dizer de Maingueneau (2004: 33), o subentendido é um “tipo de implícito que se evidencia pelo confronto do enunciado com o contexto de enunciação.”
Em relação às máximas de Grice (1982: 89), que dizem respeito, em síntese, a dizer o suficiente para ser compreendido, a procurar afirmar coisas verdadeiras, a ser relevante e a ser claro, tem-se que, caso seja violada ou transgredida uma dessas regras, o leitor procurará entender o que está implícito no enunciado. O significado passa a ser depreendido a partir do que não se disse explicitamente, levando-se em consideração o contexto situacional, o conhecimento das máximas que regulam a interação, os diferentes conhecimentos cognitivos, não só de caráter lingüísticos, mas socioculturais.Veja-se um exemplo de Grice: um professor escreve uma carta de recomendação a respeito de um aluno que é candidato a um cargo de professor de filosofia, nesses termos: “Prezado Senhor, o conhecimento de inglês do senhor X é excelente, ele tem participado regularmente de nossas aulas. Sem mais, etc.” Nesse caso, como o professor não transmitiu as informações necessárias e as informações constantes na carta não são relevantes ao que foi solicitado, o recebedor da carta, decifrando o sentido literal e reconhecendo que ele não é pertinente, deverá inferir que o professor deve estar querendo dar informações não explícitas na carta, qual seja: a informação de que o senhor X não é adequado ao cargo de professor de filosofia. Em outros termos, as insinuações que se podem depreender daí não foram marcadas lingüisticamente no texto, mas são inferidas em decorrência da transgressão de uma máxima, determinando que o leitor/ouvinte, subentenda um conteúdo além do sentido literal.
Ao articular as noções de pressuposto e de subentendido, Koch (1996: 69) diz que “a pressuposição é parte integrante dos enunciados; o subentendido, por sua vez, diz respeito à maneira como este sentido deve ser decifrado pelo destinatário.” Enquanto os pressupostos estão relacionados a um componente lingüístico – presente no próprio enunciado – independente das condições de ocorrência, os subentendidos estão previstos por um componente retórico que leva em conta as circunstâncias da enunciação, estando, portanto, ausentes no enunciado. Assim, o pressuposto é uma informação estabelecida como indiscutível ou evidente tanto para o falante quanto para o ouvinte, pois a estrutura lingüística oferece os elementos necessários para depreender o sentido do enunciado. Já o subentendido, por possibilitar dizer alguma coisa, aparentando não a dizer ou não a dizendo, passa a ser de responsabilidade do ouvinte/leitor. Maingueneau (1996: 91) ilustra essa distinção com o seguinte exemplo:

A: Estou procurando alguém para consertar meu carro.
B: Meu irmão está em casa.
A: Mas ele está sempre tão ocupado!

De acordo com o autor, a resposta de B contém a proposição implícita de que B tem um irmão. Essa proposição, qualquer que seja a situação de enunciação, encontra-se inscrita no enunciado. Dessa resposta, ainda, outro conteúdo implícito pode ser inferido, ainda que não se encontre no enunciado: o de que B propõe a A empregar o seu irmão, isto é, a informação de que o irmão de B é apto a fazer o conserto. Essa inferência foi operada a partir da enunciação, é subentendida a partir dela.
Segundo Borba (1998, p. 253), um enunciado como “Conheço muito bem os políticos de hoje” pode sugerir mais valores semânticos do que o enunciado declara, como, por exemplo, pode querer dizer que são desonestos. No entanto, se o locutor do enunciado é contestado pelo ouvinte quanto ao conteúdo do seu dizer, poderá alegar que quem está dizendo isso é o ouvinte e não ele, que não disse isso que o ouvinte interpretou, ou seja, defende-se atrás do sentido literal das palavras para se safar da interpretação. Portanto, o subentendido pode servir para o emissor proteger-se. Ao enunciar algo que pode ser subentendido, pode ter a intenção de transmitir a informação que deseja, mas sem se comprometer. Assim, não diz explicitamente, mas dá a entender, deixa subentendida alguma informação; deixa-a camuflada para não se comprometer.

Reconhecendo os implícitos do texto

Como já ressaltado, na análise de textos, o aluno deverá perceber que há textos em que o que não foi escrito também deve ser levado em consideração no ato de ler. No texto abaixo, por exemplo, o professor deve levar o aluno a depreender os significados decorrentes de certas palavras ou expressões marcadas discursivamente no texto que levam a depreender posições, idéias em relação ao que se fala:

Pesquisa revela que só 19% usam camisinha
Um levantamento feito (...) com trabalhadores de 120 empresas de 14 estados revela que o brasileiro ainda está muito mal informado sobre as formas de contágio da Aids. Segundo a pesquisa, 71% dos 4941 entrevistados acreditam que doar sangue transmite a doença, quando, na verdade, o perigo é receber o sangue de alguém que possui o vírus. No tema prevenção, a situação também é preocupante: 96,4% dos pesquisados sabem que o uso do preservativo evita a transmissão da doença, mas, mesmo assim, 47% responderam que nunca usaram preservativo; 18% disseram que usam camisinha às vezes; e 19% afirmaram usá-la sempre.
(Boa Forma. Ano 12, n° 11, nov. 1997)

Além das várias informações explícitas, as quais estão presentes na superfície textual, há informações implícitas que devem ser identificadas. Por exemplo: no título só 19% usam camisinha, o advérbio só estabelece o implícito de que o uso de camisinha é indesejavelmente baixo entre os pesquisados. Na passagem o brasileiro ainda está muito mal informado, o advérbio ainda deixa implícito que a desinformação é um fator negativo, mas provisório, ou seja, há a possibilidade de reverter, de superar essa desinformação. Na seqüência acreditam que doar sangue transmite a doença, quando, na verdade, o perigo é receber o sangue, percebe-se a oposição entre a falsa crença da informação ao verdadeiro conhecimento do processo de transmissão da doença. Quanto ao advérbio também, na seqüência No tema prevenção, a situação também é preocupante, instaura o pressuposto de que o que se disse antes sobre a falsa crença de contágio da Aids também é preocupante, ou seja, acrescenta-se a essa preocupação mais uma, a que se refere ao tema prevenção da Aids. Já na passagem 96,4% dos pesquisados sabem que o uso do preservativo evita a transmissão da doença, mas, mesmo assim, 47% responderam que nunca usaram preservativo, a forma verbal sabem do verbo factivo saber pressupõe que seja verdadeira a sua completiva, ou seja, a afirmação de que o uso do preservativo evita a transmissão da doença. O primeiro enunciado os pesquisados sabem que o uso do preservativo evita a transmissão da Aids conduz à conclusão de que, então, eles usam preservativos; essa conclusão, no entanto, é refutada pela conjunção adversativa mas, que introduz um argumento contrário a esse implícito, ou seja, eles não usam preservativos. Além disso, percebe-se o uso de mesmo assim reforçando a idéia de que mesmo sabendo que o uso do preservativo é necessário, não o usam.


As expressões acima analisadas, explícitas no texto, permitem depreender os pressupostos, os quais, analisados no seu conjunto, refletem o ponto de vista a partir do qual o texto foi construído, uma vez que divulgado em uma revista que se preocupa com a saúde e bem-estar do leitor. Além de informar sobre a pesquisa, o texto procura advertir sobre a necessidade de se difundir mais os métodos de prevenção da contaminação da Aids, ou, em outros termos, de se controlar a contaminação da Aids entre os brasileiros por meio de informações sobre as formas de contágio da doença. Como se vê, por meio das pistas extraídas do texto, o leitor pode, então, compreender os implícitos e garantir um bom nível de leitura.
É útil ressaltar que a exploração dos implícitos deve ser feita em qualquer gênero discursivo. Alguns, como o texto humorístico, por exemplo, obrigatoriamente exigem do leitor sua identificação para que o humor seja ressaltado. Isso porque o humor é construído baseando-se no que não é dito, mas apenas sugerido, cabendo ao leitor perspicaz realizar sozinho a conclusão. Também, o texto publicitário freqüentemente transmite informações implícitas. Um exemplo pode ser o seguinte anúncio do Jornal O Estado de São Paulo, publicado na revista Veja em 28/10/92:


Então...
-É fogo.
-Ô.
-Nem fale.
-É.
-Ô se é.

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O anúncio acima, conforme se pode ver, utiliza o recurso da função fática para denunciar a falta de informação ou de assunto contida no diálogo. Assim, pretende chamar a atenção do leitor para a necessidade da leitura do jornal Estadão, para que ele não corra o risco de se encontrar nessa situação, para que obtenha conhecimentos e esteja informado sobre os fatos da realidade, conseguindo, assim, interagir socialmente de forma eficaz. Isso tudo não está dito explicitamente no texto, mas o leitor deve captar a intenção do anúncio que é a de mostrar que se a pessoa for leitora do jornal não será estará desinformada como os interlocutores do diálogo.

Considerações finais

Das reflexões aqui apresentadas relativas ao processo de leitura e compreensão de textos, ressalta-se que a identificação dos implícitos é de extrema importância no ato de ler. Acredita-se que para se reverter a triste constatação de que nossos jovens possuem dificuldade em atribuir sentido ao que lêem, evidencia-se a necessidade de o professor da área da linguagem pôr em foco a questão da significação, empreender propostas de ensino de leitura que objetivem estimular o pensamento organizado, levando o aluno a apropriar-se do conhecimento de forma consciente, reflexiva e crítica. Mediante procedimentos pedagógicos de ensino de leitura que privilegiem a interação dialogal e a análise dos implícitos da linguagem, o aluno poderá refletir sobre os recursos utilizados no texto para dizer o dito e o não-dito, ou seja, comportar-se-á como um leitor-construtor do sentido do texto. Ressalta-se, aqui, que o estudo não teve a intenção de oferecer ao professor sugestões de procedimentos para o ensino da leitura; no entanto, por meio da reflexão sobre alguns aspectos semântico-pragmáticos que envolvem a leitura, pretendeu mostrar o quão importante é levar o educando a apropriar-se desses conhecimentos, com o intuito de conduzi-lo a uma leitura produtiva e, conseqüentemente, à apreensão da intencionalidade subjacente ao texto. Ao capacitar o aluno a descobrir as informações implícitas no texto, dentre elas os pressupostos e subentendidos, tornar-se-á possível reconhecê-lo como um usuário competente da linguagem no exercício da cidadania, tal como postulam os PCN.