quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

O QUE DIZEM OS PESQUISADORES SOBRE ARGUMENTAÇÃO

Quando usamos a argumentação?

No nosso quotidiano usamos constantemente a linguagem: das conversas entre amigos às intervenções nas aulas, das pequenas mensagens SMS aos trabalhos escolares, a língua é o instrumento permanentemente usado. E se é verdade que a maior parte desses actos de comunicação tem um carácter informativo, não é menos verdade que um bom número deles tem um carácter argumentativo. Quando queremos defender um ponto de vista, quando apresentamos a nossa opinião, quando propomos uma solução para um problema ou quando queremos convencer os outros a aceder a um pedido nosso, temos que argumentar. Na verdade, pensando bem, argumentamos muito e muito frequentemente. Por vezes enfrentamos a oposição dos outros e então temos que argumentar ainda melhor para os convencer. E argumentar bem é um acto de inteligência que, para ser eficaz, tem as suas regras.

O que é argumentar?

Argumentar é, pois, expressar uma convicção, um ponto de vista, que é desenvolvido e explicado de forma a persuadir o ouvinte/leitor. Para isso, é necessário que apresentemos um raciocínio coerente e convincente, baseado na verdade, e que influencie o outro, levando-o a pensar/agir em conformidade com os nossos objetivos.

Argumentar é o mesmo que persuadir?

Argumentar é persuadir racionalmente, mas nem toda a persuasão é racional. Há a persuasão emocional, muito usada, por exemplo, em publicidade. (Quando um anúncio publicitário nos convence a comprar um determinado produto, não pelas qualidades desse produto que responde a necessidades nossas, mas porque, ao associar essa marca a um determinado padrão de vida, nos leva a crer que adquirindo aquele artigo passaremos a usufruir desse padrão de vida). A diferença entre a persuasão racional e a emocional reside no fato de, na primeira, se fazer apelo à razão, enquanto na segunda, se apelar a desejos, sentimentos, medos, emoções, frustrações.


O que é um texto argumentativo?

O texto argumentativo é, então, o que visa convencer, persuadir ou influenciar o ouvinte/leitor, ao qual se apresenta um ponto de vista - uma tese - cuja veracidade se demonstra e prova. Como? Começando por apresentar a tese, a partir da qual se desenvolve o raciocínio, a argumentação, constituída por um conjunto de argumentos logicamente encadeados, sustentados em provas e, normalmente, ilustrados e credibilizados por exemplos. E o que é um argumento? Argumento é uma quantidade de informação ou de dados organizados – as premissas – que sustentam o ponto de vista e conduzem à conclusão da veracidade da tese que se pretende defender.


Quando temos que construir um texto argumentativo?

Na vida escolar, na vida profissional, e no exercício da nossa cidadania, precisamos, com frequência, de elaborar textos argumentativos.
A dissertação, o comentário, a exposição escrita, mas também um simples artigo de opinião ou uma crítica de cinema ou de música exigem a elaboração de um texto argumentativo bem estruturado, segundo um esquema lógico. Do mesmo modo, a intervenção num debate ou numa reunião, uma campanha para a associação de estudantes, um discurso político ou uma alegação judicial obrigam a uma construção argumentativa muito cuidada.

Como se constrói um texto argumentativo?

I - Estrutura do texto / Progressão temática
1. Introdução: Parágrafo inicial no qual se apresenta a proposição (tese, opinião, declaração).
Deve ser apresentada de modo afirmativo, claro e bem definido, sem referir ainda quaisquer razões ou provas.
2. Desenvolvimento: Análise/explicitação da proposição apresentada; apresentação dos argumentos que provam a verdade da proposição: fatos, exemplos, citações, testemunhos, dados estatísticos.
3. Conclusão: Parágrafo final, no qual se conclui com uma síntese da demonstração feita no desenvolvimento.

II - Escolha e ordenação dos argumentos
Para uma correta construção argumentativa, é fundamental a escolha dos argumentos que suportam a demonstração da verdade da tese. Eles devem ser pertinentes e coerentes, apresentados de forma lógica e articulada. Assim deve-se:
• encontrar os argumentos adequados;
• recorrer, sempre que possível e desejável, à exemplificação, à citação, à analogia, às relações causa-efeito;
• organizar os argumentos por ordem crescente de importância, do menos para o mais importante.

III - Adequação do texto ao objetivo e ao destinatário
A construção de um texto argumentativo deve ter em conta a sua finalidade e também o leitor/ouvinte ao qual se destina (para informar, convencer, emocionar). Deve, pois:
• usar um registro adequado à situação e ao destinatário;
• utilizar referências de conteúdo que o destinatário possui, de forma a que este o possa interpretar corretamente.

IV - Articulação e progressão do discurso
O texto deve apresentar-se como um todo coeso e articulado, através do estabelecimento de uma rede de relações lógicas entre as palavras, as frases, os períodos e os parágrafos que o constituem. Deve, além disso, recorrer a processos de substituição, usando palavras ou expressões no lugar de outras usadas anteriormente. Deve igualmente corresponder à construção de um raciocínio que se vai desenvolvendo gradualmente. Estas características são conseguidas através da correta utilização e combinação dos elementos linguísticos do texto:
• correta estruturação e ordenação das frases;
• uso correto dos conectores do discurso;
• respeito pelas regras de concordância;
• uso adequado dos pronomes que evitam as repetições do nome;
• utilização de um vocabulário variado, com recurso a sinônimos, antônimos, hiperônimos e hipônimos.
A progressão e articulação do texto é conseguida sobretudo através do uso de conectores ou articuladores do discurso que vão fazendo progredir o texto de uma forma coerente e articulada.

Conectores do discurso

Vimos que, para cumprir o seu objetivo – persuadir – o texto argumentativo deve apresentar-se como uma construção lógica, na qual o raciocínio é apresentado de forma progressiva e articulada. Para isso, é fundamental uma boa utilização dos articuladores ou conectores do discurso – advérbios, locuções adverbiais, conjunções, locuções conjuncionais e mesmo orações completas. Alguns desses articuladores, utilizados em qualquer tipo de texto, são recorrentes no texto argumentativo.

Articuladores Argumentativos:

para reiterar, reafirmar - retomando a questão, penso que, a meu ver, creio que, estou certo, em nosso entender.
para concordar, provar, exprimir certeza - efetivamente, com efeito, sem dúvida, na verdade, certamente, de certo, com toda a certeza, evidentemente, é evidente que, obviamente, é óbvio que.
para refutar, manifestar oposição, restringir conseqüência - no entanto, mas, todavia, contudo, porém, apesar de em sentido contrário, refutando, peto contrário, ao contrário por outro lado, com a ressalva de.
para exemplificar - por exemplo, como se pode ver, assim, tome-se como exemplo, é o caso de, é o que acontece com.
para explicitar - significa isto que, explicitando melhor, não se pretende com isto, quer isto dizer, a saber, isto é, por outras palavras.
para concluir - finalmente, enfim, em conclusão, concluindo, para terminar, em suma, por conseguinte, por consequência.
para estabelecer conexões de tempo - então, após, depois, antes, anteriormente, em seguida, seguidamente, quando, até que, a princípio, por fim.
para referenciar espaço - aqui, ali, lá, acolá, além, naquele lugar, o lugar onde, ao lado de, à esquerda, à direita, ao centro, no meio, mais adiante.
para indicar ordem - em primeiro lugar, primeiramente, em segundo lugar, seguidamente, em seguida, começando por, antes de mais, por último, por fim.
para estabelecer conexões de causa - porque, visto que, dado que, uma vez que.
para estabelecer conexões de conseqüência - de tal modo que, deforma que, tanto que, e por isso.
para expressar condição, hipótese - se, a menos que, a não ser que, desde que, supondo que, se por hipótese, admitindo que, exceto se, se por acaso.
para estabelecer conexões de fim - para que, para, com o fim de, afim de que, com o intuito de.
para estabelecer relações aditivas - e, ora, e também, e ainda.
para estabelecer relações disjuntivas - ou, ou então, seja... seja, quer...quer.
para expressar semelhança, comparação - do mesmo modo, tal como, pelo mesmo motivo, pela mesma razão, igualmente, assim como.

Que é argumentar?
1. Argumentar é expor de forma encadeada um conjunto de argumentos (razões) que justificam uma conclusão. Por outras palavras, um argumento é um conjunto de premissas (razões, provas, ideias) apresentadas para sustentar uma tese ou um ponto de vista.
2. Conforme os tipo de argumentos (razões) que nos servimos para justificar uma dada conclusão, podemos estar perante uma demonstração ou uma argumentação. Foi Aristóteles no Organon, quem fez pela primeira vez esta distinção.
No caso da demonstração, os argumentos (premissas) são verdadeiros e a partir deles só podemos deduzir uma conclusão verdadeira.

Exemplo:
Todos os mamíferos têm pulmões
Todas as baleias são mamíferos
Logo, todas as baleias têm pulmões
.

As premissas que partimos são verdadeiras e também inquestionáveis. A conclusão só pode ser uma. Negá-la seria entrar em contradição. Aristóteles designou este tipo raciocínio de analítico.
No caso da argumentação os argumentos (premissas) são mais ou menos prováveis. Muitos pessoas são susceptíveis de serem convencidos que os mesmos verdadeiros, mas nem todas irão concordar com esta posição. A conclusão está longe de gerar uma unanimidade.

Exemplo:
Todos os alunos são estudiosos
João é aluno
Logo, João é estudioso
.

A premissa que partimos é muito discutível. A conclusão inferida a partir da conclusão, embora logicamente válida, não obtendo a concordância de todos. Aristóteles designou este tipo raciocínio de dialético. Neste caso o orador não se pode limitar a expor algo que é admitido como verdadeiro, mas tem que persuadir quem o ouve da sua veracidade das suas conclusões.

3. Com base nos exemplos anteriores, podemos afirmar que a argumentação se distingue da demonstração em muitos aspectos, tais como:
Na argumentação a conclusão é mais ou menos plausível; as provas apresentadas são susceptíveis de múltiplas interpretações, frequentemente marcadas pela subjetividade de quem argumenta e do contexto em que o faz. Na argumentação procura-se acima de tudo, convencer alguém que uma dada tese é preferível à sua rival. É por isso que só se argumenta nas situações em que existem várias respostas possíveis. Toda a argumentação implica deste modo o envolvimento ou comprometimento de alguém em determinadas teses.
Na demonstração a conclusão é universal, decorrendo de forma necessária das premissas, e impõe-se desde logo à consciência como verdadeira; as provas são sem margem de erro e não estão contaminadas por fatores subjetivos ou de contexto. A demonstração assume um caráter impessoal. É por isso que podemos dizer que a mesma foi correta ou incorretamente feita, dado só se admitir uma única conclusão.
4. O discurso argumentativo supõe a disponibilidade de duas ou mais pessoas (interlocutores), para confrontarem de forma pacífica, os seus pontos de vista e argumentos. Fazem-no de um modo que procura cativar a atenção e adesão às suas ideias por parte de quem os ouve (auditório). Três das condições para que isso possa acontecer: o discurso dever ser coerente e consistente, isto é credível, mas também o orador tem que ser persuasivo.
5. A argumentação é distinta da persuasão. Se podemos dizer que todo o discurso argumentativo é persuasivo, o contrário não é verdadeiro, pois nem todo o discurso persuasivo é argumentativo.
A argumentação para poder ser convincente tem que fazer apelo à razão, ao julgamento de quem participa ou assiste ao confronto de ideias.
A persuasão está ligada à sedução. A adesão de alguém a certas ideias é feita através de gestos, palavras ou imagens que estimulam nela sentimentos ou desejos ocultos, acabando por gerar falsas crenças. Através da persuasão o orador reforça os seus argumentos despertando emoções, de modo a criar uma adesão emotiva às suas teses. Na persuasão ao contrário da argumentação faz-se apelo a processos menos racionais. Como veremos, os atuais meios de comunicação de massas, veiculam discursos publicitários que utilizam sofisticadas técnicas de persuasão dirigidas a públicos-alvo bem determinados.
Chaim Perelman questiona este critério de distinção. Segundo este autor, o critério de distinção não assenta na dicotomia razão/emoção, mas sim na dimensão do auditório: os discursos argumentativos dirigem-se a públicos particulares, capazes de avaliarem as teses em confronto. Os discursos persuasivos dirigem-se a públicos universais, pouco versados nos tema em discussão e por isso mais receptivos à sedução.
6. Um discurso argumentativo requer uma organização e encadeamento de argumentos, tal de forma lógica que o auditório não apenas possa acompanhar o raciocínio do orador, mas também que possa ser convencido da justeza da posição que está a ser defendida (Logos). Para além deste aspecto, é também fundamental para que o discurso seja persuasivo que o próprio orador seja credível (Ethos) e que desperte simpatia ou gere empatia com o auditório (Pathos)
Este aspecto realça a importância do emissor (orador, o que elabora a argumentação). Ele tem que conhecer as características do seu receptor (auditório) e saber calcular as suas reações face à mensagem pretende veicular. O discurso argumentativo valoriza o receptor e as suas opiniões ou reações.
7. O grande objetivo de todo o discurso argumentativo é provocar a adesão de um auditório (o conjunto de indivíduos que o emissor pretende influenciar por meio da sua argumentação).
O discurso é sempre feito em função de um auditório composto por indivíduos todos diferentes entre si. O emissor, antes de elaborar a sua argumentação tem que construir do mesmo uma dada representação ideal tentando prever a sua adesão aos argumentos que irão ser expostos.
Nem todos os argumentos provocarão certamente a mesma adesão. Cada auditório requer, pois, da parte do emissor, uma estratégia argumentativa própria, de forma a apresentar nos momentos certos os argumentos mais ajustados. Um auditório particular é muito distinto de um auditório universal. Cada um exige um discurso próprio para que este possa ser persuasivo.
8. Desde o seu início que na filosofia se dedica uma enorme atenção à argumentação. Tal não acontece por acaso. Na verdade a argumentação é uma das formas mais profícuas da própria atividade filosófica, na medida em que ela envolve a capacidade de dialogar, de pensar, de analisar, de escolher e implica o comprometimento de alguém com os seus próprios argumentos.

Carlos Fontes

Opinião de leigos sobre o assunto: (Se é que vale pra você)
Quinta-feira, 20 de Setembro de 2007
Argumentar, persuadir, convencer, influenciar, manipular...
Argumentar, persuadir, convencer, influenciar, manipular...
(Afinal de contas, quem é quem?)

Todas essas palavras são todas bem parecidas em seus significados e fazem parte de nossas vidas cotidianamente, afinal de contas, quem não quer ter poder sobre os outros???
Olhe, não me fale que nunca pensou nisso, nem que vc é democrático e politicamente correto, pq no fundo no fundo, lá dentro no seu pensamento, vc já quis um dia ou em todos os dias, persuadir as pessoas para q pensassem como vc pensa, assim o mundo seria mais fácil pra vc, ou pelo menos para o seu mundo.
O fato é que, todos nós em alguma situação de nossas vidas, já utilizamos essas palavras, já precisamos argumentar com alguém, tentamos convencer pessoas de que algumas coisas são certas e outras tantas são erradas, e queremos geralmente (digo por mim!) influenciá-las a optar pelo que é certo, para livrá-las da manipulação desenfreada do sistema alienador do mundo.

Então, vamos aos esclarecimentos:

Argumentar: Expor idéias para causar reflexão com fins de mudança de comportamento ou tomada de atitude.
Argumentos: propostas que levam o seu interlocutor a avaliar determinada questão.
Convencer: vencer junto com o outro, de maneira racional, através de argumentos lógicos ambas partes entram em acordo. (com + vc + vencer = convencer)
Persuadir: utiliza-se argumentos emocionais apela-se aos sentimentos, provoca-se sensações.
Influenciar: causar uma ação no outro convencendo ou persuadindo
Manipular: dominar independente de convencimento ou persuasão

Então, é o seguinte:
Você precisa de argumentos para influenciar sem manipular, através de uma argumentação persuasiva e de convencimento.

Sacou?!
Espaço para amigos e visitantes... pois é gente, vamos ler e contribuir aqui "SoBrE aLgUmAs CoIsAs"... Agnise Martins

http://agnise.blogspot.com/2007/09/argumentar-persuadir-convencer.html

Nenhum comentário:

Postar um comentário